A Federação, no dia 27 de fevereiro de 1914, sexta-feira, noticiava:
Instrucções para o serviço de padioleiros – Parte V
Instrucções para o serviço de padioleiros, em manobras e em campanha, na Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, contendo breves noções sobre os primeiros soccorros, prestados a feridos e doentes.
Este trabalho foi elaborado pelo capitão medico da Brigada – dr. Armando Bello Barbedo – por determinação do sr. coronel dr. Cypriano da Costa Ferreira, commandante geral da Brigada Militar.
Á vóz – abrir fileiras – os padioleiros números 2 e 4 (cerra-fila) darão três passos á rectaguarda, ou, havendo obstáculo ahi, os numeros 1 e o 8 (chefes de filas) farão o mesmo para a frente. O sargento passará, então, revista, verificando se o material está em ordem, a fim de providenciar.
Á vóz – preparar para armar padioIas – o padioleiro numero 8 faz, por meia volta á direita, frente á retaguarda e entrega a cabeceira da padiola ao padioleiro numero 2, que a segura com a mão esquerda, ficando o numero 3 com a outra extremidade da padiola; o padioleiro numero 1 dá um passo a retaguarda e o numero 4 um passo á frente, mudando ambos a frente para o centro da padiola.
A vóz – armar padiolas – os padioleiros numeros 1 e 4, auxiliados pelos outros dous, começam a armal-a, retirando primeiro os suspensorios que a envolvem e desenrolando-os da esquerda para a direita, collocando-os em seu pescoço; em seguida os números 2 e 8 que seguram as extremidades da padiola, tendo o pé direito para a frente, giram e abrem as hastes da padiola; então os numeros 1 e 4 collocam as travessas, convindo sempre que o numero 1 colloque a travessa dos pés o e números 4 a da cabeceira.
Armada a padiola, os padioleiros numeros 1 e 4 enfiam as alças dos suspensorios nos braços das respectivas padioIas, collocando a parte do centro dos suspensorios sobre a lona da padiola. Isto feito, está a padiola armada e, conforme as necessidades do momento, o sargento de saúde dará a vóz – descançar padiolas – o que será feito do seguinte modo: os padioleiros numeros 2 e 4 depoem a padiola no chão e ficam entre as suas hastes, tomando todos a frente primitiva da formatura. Nesta posição esperam a vóz – a soccorro – a fim de marcharem para os pontos indicados conforme a necessidade da occasião, procedendo da seguinte forma: no grupo que entra em serviço; os padioleiros numeros 2 e 3 seguram e suspendem as hastes da padiola, collocam os suspensorios no pescoço (figura n. 10) e seguem ao destino ordenado pelo sargento de saúde; os números 1 e 4, que sahem conjuntamente com o grupo, decorridos alguns passos de distancia acceleram a sua marcha e chegam primeiro ao local onde se acha a praça que necessita de soccorros, ahi procedem aos necessários e urgentes cuidados, recorrendo de preferencia ao pacote de curativo individual do soccorrido ou de peças de seu fardamento ou equipamento, reservando sempre a carga de suas bolsas sanitarlas; nesse Ínterim, chegam os padioleiros numeros 2 e 3, portadores da padiola, os quaes obedecem a vóz do padioleiro numero 1, que determinará a collocação da padiola á direita ou á esquerda do ferido, conforme a localisação do ferimento.
A padiola será sempre collocada a um passo de distancia do ferido ou doente e paralelamente a elle. Collocado o soccorrido na padiola, esta poderá ser conduzida pelos padioleiros 2 e 3 ou, enitão pelos quatro padioleiros, tendo a vóz de commando o numero 1, que deverá ser o padioleiro de maior aptidão, o qual guiará o grupo a fim de ser feito o transporte em boas condições de estabilidade e accommodação do transportado.
Sempre que a padiola conduzir enfermo ou ferido, convém observar o seguinte: o padioleiro ou os padioleiros que a forem conduzindo na frente devem romper a marcha com o pé esquerdo e os que forem na retaguarda romperão a marcha com o pé direito, o que é de grande vantagem a fim de diminuir o balanço da padiola; o passo deve ser regular, curto e igual, reduzido, mais ou menos, a 2/3 do passo ordinário; todos os padioleiros devem procurar dar á padiola uma marcha regular sem trepidação, para o que convém marchar em cadencia moderada, combinando os passos, evitando saltos, flexionando brandamente, as coxas e os joelhos e pisando com o pé em cheio no cheio no chão; em taes condições o passo póde ser accelerado, quando o estado do soccorrido o permitir, observando-se sempre os preceitos acima referidos. Quando a padiola estiver vasia, o passo deve ser accelerado. Os padioleiros numeros 1 e 4, principalmente quando não vão conduzindo a padiola, devem transportar, quando possivel, as peças de fardamento, equipamento e armamento do soccorrido, que não foram aproveitadas para o soccorro, tendo o cuidado de descarregar o fuzil arrecadando a munição que distribuirão entre os atiradores.
Relativamente ao passo reduzido aos 2/3 do seu comprimento ordinario, Lougmero faz notar que ha sob o ponto de vista dos movimentos de oscillação, diferença notável ente o passo ordinário e o passo reduzido de 1/3. Quando dous padioleiros conduzem uma padiola vazia, dando passos de 30 pollegadas, de calcanhar a calcanhar, o movimento oscillatorio é de 3 ½ pollegadas (8 centímetros); com a padiola carregada e com o mesmo passo, esta oscillação é de 4 ½ pollegadas (11 centimetros). Quando o passo é reduzido a 1/3 (2 pollegadas), a oscillação da padiola vazia é de 1 ½ pollegada e a da padiola carregada é de 2 ¼ polegadas (5 ½ centímetros), portanto, a oscillação fica reduzida á metade da que haveria se o passo fosse ordinário. Chegados á barraca-hospital, o soccorrido será entregue ao enfermeiro mór e nos Postos de Socorros ao cabo de saúde, que darão conhecimento aos médicos de serviço. Em seguida o grupo de padioleiros regressa ao campo de acção, se for preciso, ou irá para o local da formatura receber novas ordens.
Uma vez terminado o serviço, o sargento de saúde, mediante ordem do médico-chefe dará voz – desarmar padiolas – manobra de fácil execução, por isso que é o inverso de armar, sendo os tempos idênticos, porem em sentido contrario.
Feito isto, a guarnição voltará á formatura primitiva, isto é, com a padiola perfilada, etc., e será, finalmente, dada a vóz — recolher padiolas — para cuja execução irá recolhendo cada padioleiro á repartição competente o material que tiver recebido.
OBSERVAÇÃO
Caso tenha havido estrago ou desarranjo na padiola ou em seus accessorios, o padioleiro numero 1 dará disso conhecimento immediato ao sargento de saúde, a fim de dar este parte do occorrido á auctoridade competente. Por essa ocasião, terminado, portanto, o serviço affecto aos padioleiros, o sargento de saúde os conduzirá para seu corpo, salvo se
receber ordem em contrario.
Fonte: Jornal A Federação, ano XXXI, edição 048, de 27/02/1914, sexta-feira, página 4 – *mantida a grafia da época