A Federação, no dia 24 de fevereiro de 1914, terça-feira, noticiava:
Brigada Militar
Instrucções para o serviço de padioleiros – Parte IV
Instrucções para o serviço de padioleiros, em manobras e em campanha, na Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, contendo breves noções sobre os primeiros soccorros, prestados a feridos e doentes.
Este trabalho foi elaborado pelo capitão medico da Brigada – dr. Armando Bello Barbedo – por determinação do sr. coronel dr. Cypriano da Costa Ferreira, commandante geral da Brigada Militar.
Descripção da padiola
Entre os innumeros meios de transportar doentes ou feridos durante o combate (cacoletes, liteiras, ambulâncias de 4 rodas ou omnibus, que podem conduzir até 10 pessoas sentadas, carros ambulancia leves, de 2 rodas, que podem conduzir, até 6 pessoas sentadas, etc.) indubitavelmente a padiola é o mais commodo, tanto para elles como para as praças que os conduzem.
Entretanto apesar do não estarem muito em voga os cacolets e as liteiras, que no exercito francez foram substituídos pelos carrinhos porta-padiolas (brouette porte-brancard), juntei as respectivas estampas para serem conhecidos esses dous meios de conducção de feridos e doentes, que aliás julgo de vantagem quando se opera em terrenos accidentados. Esses meios, pois, têm relativa importancia.
O transporte feito a braços ou sobre os hombros é o menos conveniente, por ser penoso e fatigante. Ha uma grande variedade de typos de padiolas, que differem entre si por pequenas modificações em suas peças accessorias (Franck, Macquet etc).
No Exercito Nacional os modelos mais uzados de padiolas são o de Franck e o de Macquet, modificado por Vidal; este, por ser mais portátil e commodo, será provavelmente adoptado no serviço de padioleiros da Brigada Militar.
Segundo a opinião competente do coronel dr. Antonio Ferrreira do Amaral, Director do Hospital Central do Exercito, as padiolas supracitadas são, no genero, o quo ha de mais expedito e seguro, dando ao doente e aos conductores fácil e commodo transporte e prestam-se para leito dos doentes graves e para mesa de operação.
A padiola Macquet compõe-se de duas hastes, cujos extremos chamam-se braços; são ambas enfiadas em bainhas lateraes feitas em uma lona resistente, que constitue o leito da padiola, tendo na cabeceira uma dobra em forma de bolça, destinada a ser cheia de palha, constituindo assim o travesseiro. Em cada extremidade da padiola, tanto das cabeceiras como dos pés, é collocada uma travessa de madeira, munida de dois orificios, em que são enfiados os braços da padiola, a fim de manter suas hastes afastadas, em posição parallela, dando ao conjuncto a fórma rectangular.
A travessa da cabeceira é enfiada em uma bainha existente na lona (travesseiro); a dos pés é munida de dous outros orifícios, no centro, pelos quaes passam duas correias de couro, fixadas á lona que se estica á vontade, por meio de duas fivelas presas ás correias.
Cada travessa tem em suas extremidades dous pés articulados da padiola, que póde assim ser aproveitada como cama em caso de necessidade.
Tem dous suspensorios de couro, cada um munido de fivéllas em suas extremidades, que servem para ajustar essa peça accessoria ao corpo do padioleiro e para manter, quando desarmada a padiola, o seu enrolamento, a fim de ser conduzida mais facilmente.
Formatura — Armar e desarmar padiolas
Os padioleiros sob o commando do mestre de musica, 1º sargento de saúde ou do seu substituto legal, o contra-mestre, 2º sargento de saúde, quando requisitados, apresentam-se, na ambulancia ou Barraca-Hospital, ao medico de serviço, e aguardam ordens, a dez passos de distancia da barraca, com o seu pessoal formado em duas fileiras unidas.
— Formações —
Uma vez apresentado, o sargento de saúde espera ordens, que poderão ser, ou a de descanço ou a de preparar-se para armar padiolas e nesse caso o sargento de saúde retira-se incontinentemente e põe o seu pessoal prompto para o serviço, fazendo as seguintes evoluções:
Á vóz de — direita — volver — metter por altura – esquerda — volver; os padioleiros tomam lugares, de sorte que os mais altos occupam a fileira da retaguarda e volvem á frente primitiva. Segue a voz – abrir intervalos para a esquerda,
A esta vóz os padioleiros, a começar da direita, estendem o braço esquerdo até alcançar com a mão o hombro direito do padioleiro que lhe fica á esquerda, fazendo passo lateral à esquerda até ficarem com os intervalos necessários.
Os padioleiros deixam cahir o braço sobre a coxa correspondente. Á voz de enumerar filas, os padioleiros, a começar pela direita, vão numerando-se, de maneira tal que o primeiro padioleiro á direita toma o numero um e o seu cerra-fila o numero dous; o chefe de fila immediato dará o numero três e o seu cerra-fila o numero quatro e assim successivamente vão numerando-se de quatro em quatro, formando desse modo as guarnições correspondentes a cada grupo de padioleiros.
A cada padiola é, portanto, dada uma guarnição de 4 homens (Prussia, Russia, Inglaterra), sendo 2 para a condução do ferido e 2 auxiliares.
Depois de numerados, o sargento de saúde dá a voz – destacar grupos . Os padioleiros números 3 e 4 unem, respectivamente, aos padioleiros números 1 e 2 que lhe ficam á direita, ficando desta sorte um espaço aproximado de dous passos entre os respectivos grupos, que tomam os números primeiro, segundo, terceiro grupo, etc., sempre contando da direita para a esquerda.
Os grupos assim enumerados, em ordem, facilitam o serviço, dando-lhe melhor methodo. Á voz receber padiolas e bolsas sanitárias, os padioleiros numero 3 dão um passo á frente, em seguida o sargento dará a voz á direita (ou á esquerda) marche, conforme o local em que estiver o carro, onde se acham guardadas as padiolas e ahi serão entregues pelo conductor do respectivo carro a cada padioleiro uma padiola, que elle conduzirá em posição horizontal, sob o braço direito, devendo os padioleiros guardar entre si, tanto na ida como na volta, os seus intervallos. Em seguida à partida dos padioleiros numeros 3, o sargento de saúde dará a voz á direita (ou á esquerda) marche aos padioleiros números 1, que saem de forma e vão á Barraca-Hospital, onde cada um receberá quatro cantis para o respectivo grupo e duas bolsas sanitárias que ficarão consigo. Recebidos os objectos, os dois chefes de fila de cada grupo entrarão novamente em forma, depois de distribuir os cantis, mantendo os padioleiros numero 3 a padiola perfilada no braço esquerdo, com a cabeceira voltada para cima. Os braços da padiola e a cabeceira serão pintados de cor differente da do restante.
(Continua)
Fonte: Jornal A Federação, ano XXXI, edição 046, de 24/02/1914, página 3 – *mantida a grafia da época