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O DIA 22 DE ABRIL DE 1914, NA HISTÓRIA DA BRIGADA MILITAR – Comemorações De 21 De Abril, Na Brigada Militar – II

A Federação , no dia 22 de abril de 1914, quarta-feira, noticiava:

21 DE ABRIL

Prelecções cívicas – Brigada Militar – Passeio do 1º Regimento – Em Palácio – A festa do Gremio Gaúcho – Outras notas.

Por motivo da passagem da data de 21 do abril, realisaram-se, hontem, nesta capital, varias festas cívicas, organizadas pelos corpos do Exercito, Brigada Militar e diversas associações.

De accôrdo com o actual programma do instrucção da Brigada Militar, o Tenente Vicente Landell dos Santos, do 2º Batalhão, e Alferes João Pinto Guimarães, do 1º Batalhão, fizeram as seguintes prelecções:

Camaradas

Cabe-me, hoje, a grata missão de dirigir-vos a palavra para explicar-vos a grande data que amanhã passará. 21 de abril!

Para nós, brazileiros, essa data traduz a magna epopéa, que passou á, posteridade e teve por principal protagonista o Alferes Joaquim José da Silva Xavier – o Tiradentes!

Não dispondo de phrases buriladas para descrever os feitos desse grande vulto e de seus companheiros de martyrio pela liberdade de nossa, Patria, vou citar-vos o capitulo que a historia de nosso Brazil lhes consagra, si bem que em rápidos, porém significativos traços:

“As causas priricipaes da anti pathia que lavrava entre o Brasil e Portugal foram: em 1º logar, a preferencia odiosa que, para preenchimento dos empregos publicos, dava a Côrte aos Portuguezes; em 2º, as medidas oppressivas com que de Lisboa esforçavam-se por impedir o desenvolvimento e a prosperidade da Colonia, e, por último, os pesados impostos que eram arrecadados com grande rigor.

Foi Minas Geraes o ponto em que manifestou-se pela 1ª vez o desejo de sacudir tão odioso jugo, que ainda mais insuportável se tornava pela violenta administração do capitão general D. Luiz Antônio Furtado de Mendonça, Visconde de Barbacena, sendo este pela Metropole especialmente encarregado de proceder á cobrança do imposto das minas, do qual a capitania achava-se desde annos em atrazo.

Um acontecimento que muito contribuiu para avivar no Brazil o sentimento da Indepedência, foi o esplendido triumpho dos norte-americanos sobre a Metropole ingleza, libertando-se depois d’uma luta heróica, que durou 7 annos.

Também teve influencia notável sobre os ânimos do Brazil a grande propaganda que naquelle tempo fazia-se na Europa, no sentido de uma revolução completa nas instituições sociaes e politicas; sendo as grandes idéas dos philosophos francezes trazidas para o Brazil, onde achavam écho no coração dos opprimidos habitantes da Colonia.

Os principaes patriotas que tentaram realisar a grande idéa da Independência foram José Joaquim da Maia, José Maria Leal, Domingos Vidal Barbosa, José Alvares Maciel, Ignacio José de Alvarenga Peixoto, Cláudio Manoel da Costa, Thomaz Antonio Gonzaga e o Alferes Joaquim José da Silva Xavier, por alcunha o Tiradentes.

José Joaquim da Maia, achando-se com alguns outros companheiros estudando na Europa, celebrou uma conferencia com o ministro norte-americano em Paris, Thomaz Jefferson, pedindo-lhe o auxilio dos Estados-Unidos na revolução que se preparava no Brazil.

Este generoso passo dado pelo joven patriota mallogrou-se porque Jefferson não quiz ou não pode contrair compromisso algum, declarando que ao Brazil competia fazer por si mesmo a sua independência, o só então deveria contar com o apoio dos Estados Unidos.

José Alvares Maciel e Domingos Vidal Barbosa, companheiros de estudos de Mata, depois da morte deste era Lisbôa, voltaram para Minas Gerais, onde se encontraram com os patriotas, que já se occupavam com a organisação da revolta. Os conjurados reuniam-se primeiramente em casa de Claudio Manoel da Costa e depois na do tenente-coronel Francisco de Paula Freire de Andrade.

O plano concebido pelos patriotas era, em breves palavras, o seguinte: pretextando uma oposição enérgica contra o imposto das minas, propunham-se a declarar em seguida a independência do Brazil, dando-lhe um governo republicano, e como capital a cidade de São João d’El-Rei. Os conjurados extenderam a sua actividade tambem até as capitanias de S. Paulo e Rio de Janeiro, e commissionaram, para preparar a rebellião nesta ultima capitania, ao Tiradentes, moço enthusiasta, cheio de patriotismo, que julgava deverem todos abrigar os mesmos sentimentos generosos que ele professava.Partiu, pois, o Tiradentes, para o Rio de Janeiro, mas não procedeu alli com a necessária reserva. Confiava seus planos a indivíduos que eram incapazes de sujeitar-se ao grande sacrifício que lhes pedia; alliciava soldados nos quartéis do Rio de Janeiro quase abertamente, e comprava armas em tão grande quantidade que devia deslpertar suspeitas.

Não tardou o capitão general de Minas a ter conhecimento da conspiração.

Entre os conjurados havia alguns homens de sentimentos baixos, que venderam a sua honra, e a causa de sua patria o a sorte de seus companheiros. Estes homens foram o coronel Joaquim Silverio dos Reis e os tenentes-coroneis Basilio do Britto Malheiros e lgnacio Correia Pampeona. O motivo que tiveram para commetter tão vil acção foi que se achavam em debito para com o fisco e assim revelaram ao Visconde de Barbacena todo o segredo da conspiração, a fim de ser-lhes perdoada a sua divida.

O capitão general comunicou a noticia ao vice-rei D. Luiz de Vasconcellos, que acto continuo expediu ordem de prisão contra o martyr Tiradentes.

No dia 10 de maio do 1789 foi este preso no salão de uma casa da rua dos Latoeiros (hoje Gonçalves Dias) e encerrado numa das masmorras da fortaleza da Ilha das Cobras.

Os outros patriotas, implicados na conspiração, foram presos também e julgados, assim como Tiradentes, pelo Tribunal da Alçada.

No dia 18 de abril de 1792 proferiu-se a sentença. Foram condemnados á morte 11 dos principaes conspiradores, 5 a degredo perpetuo, e os outros ao desterro por algum tempo. Esta sentença executou-se só em parte: a rainha d. Maria I, que até se achava disposta a conceder perdão geral, no que foi impedida pelos seus ministros, commutou a pena de morte imposta aos chefes da rebellião, excluindo, porém, de sua real clemência ao Tiradentes.

A execução deste primeiro Martyr da lndependência Brazileira effectuou-se no dia 21 de abril de 1792.

Sobre o cadafalso, levantado no largo da Lampadosa (largo do Rocio), soffreu Tiradentres, com heroismo, o suplício da forca, sendo seu corpo esquartejado e dividido em postas.

Em seguida foi arrasada a casa em que habitara e deitado sal sobre o terreno em que estivera edificada. Camaradas! Terminando concito-vos a gravardes em vossos corações o nome do Alferes Joaquim José da Silva Xavier, vulgo – o Tiradentes, – cuja sagrada Memória devemos guardar com a mais profunda veneração.

Lembrae-vos do martyrio do heroico Tiradentes e de seus companheiros em pról da liberdade do nosso adorado Brasil e amae nossa Pátria com o mesmo ardor com que esse Grande Vulto a amou.

– ∆ –

Camaradas!

Em obediencia ao disposto em nosso programma de instrucção vigente, fui escalado para explicar-vos a data que hoje se commemora.

Desempenhando-me desvanecido desta incumbência, o vou fazer com ligeira e despretenciosa palestra.

Faz hoje 122 annos, isto é, foi a 21 de abril de 1792 que foi executado na cidade do Rio de Janeiro o Alferes José Joaquim da Silva Xavier, por alcunha Tiradentes.

Sabeis quem foi Tiradentes?

Foi o maior o mais abnegado patriota de seu tempo; foi o precursor da Republica; foi o corajoso integro republicano que, embora sabendo quasi com certeza que pagaria com a vida a sua audácia, ousou chefiar uma conspiração que tinha por fim libertar o seu caro Brazil do jugo asphixiante da coroa bragantina.

Patriota sincero e abnegado, seu ideal, sua única ambição era ver sua Patria livre.

Não fôra a nefasta traição, os baixos caracteres e a honra venal dos conjurados Joaquim Silverio dos Reis, Bazilio de Britto e lgnacio Corrêa Pamplona, não fora esses judas que não trepidaram em vender a causa do sua Patria e a sorte de seus companheiros, a República, esta bella fórma de governo que, quasi ha 25 annos nos felicita, seria proclamada naquella epoca.

Pois que, conformo nol-a diz a historia, os conjurados “pretextando uma oposição enérgica contrra o imposto das minas, propunham-se a declarar em seguida a independoncia do Paiz, dando-lhe um governo republicano, etc…”

Tiradentes foi, um verdadeiro heroe popular da sua época: era dentissta e exercia a sua profissão gratuitamente; foi commerciante ambulante, minerador e finalmente dedicando-se a carreira das armas, chegou a alcançar o posto de Alferes de milícias.

Muitos foram os companheiros de Tiradentes na celebre conjuração mineira, porém só elle pagou

com a vida esse pseudo crime, porque só elle ousou arcar com a responsabilldade da revolução abortada; não accusou ninguém; antes tratou innocentar seus companheiros, e por isso, por tanta grandeza d‘alma foi que, sendo seus companheiros condemnados a degredo perpétuo uns e a desterro outros, elle o foi à morte, executado a 21 de abril do 1792, no largo de São Domingos (Rocio), sendo seu corpo esquartejado e arrastado pelas ruas da cidade, sua casa demolida, seu espólio confiscado e seus innocentes filhinhos declarados infames.

Mas todos esses horrores o eniquidade praticados pelos despóticos ministros da rainha D. Maria I, não bastaram para amedrontar o povo brazileiro e o sangue do protomartyr da Liberdade foi semente em terra fértil, cujos rebentos foram aa consequentes proclamações da Independência do Brazil a 7 de setembro de 1822 – e da República a 15 de novembro de 1889.

Camaradas!

É a memória deste vulto heroico, é a lembrança desse grande homem, que tanto batalhou pela nossa Liberdade, derramando o seu sangue em pról da nossa amada República, é a memória do Alferes José Joaquim da Silva Xavier – o Tiradentes, que hoje se comemora, e a quem aqui reunidos prestamos esta singela e merecida homenagem.

Camaradas!

Paz aos manos de Tiradentes!

Gloria á sua memória grandiosa!

Viva o Brazil!

Viva a Republica!

– ∆ –

Passeiata militar

Pelas 10 horas, o 1º Regimento de Cavallaria da Brigada Militar, sob o commando do tenente-coronel Claudino Nunes Pereira, fez uma passeiata pelas principaes ruas da capital.

A’quelle corpo associou-se a Escolta Presidencial, comandada pelo capitão Lourenço Galant.

A força foi multo elogiada pelo correctismo e garbo com que se apresentou.

– ∆ –

Em palácio

Estiveram em palácio, onde foram apresentar congratulações ao dr. Borgcs de Medeiros, presidente do Estado, as seguintes pessoas: dr. Marçal P. de Escobar, dr. Manuel de Freitas Valle, por si, pela “Actualidade” e pelo General Antonio Joaquim da Silva, coronel Julio Vasques, dr. José da Costa Gama, dr. Carlos Alberto de Barros e Silva, Vivaldino Marques de Medeiros, dr. Ildefonso Pinto, Paulo Bidan, José Fagundes, Vicente Giannone, Aldo Motta.

– ∆ –

Gremio Gaúcho

Realisou-se, hontem, na séde desta sociedade, no arraial da Gloria, a annunciada festa em honra á data de 21 de abril.

Desde pela manhã, começaram a affluir ao local, grande número de famílias, sócios e convidados.

A’s 9 horas, foram abatidas duas rezes sendo servido, depois, o tradicional churrasco.

A’s 15 horas effectuou-so a sessão solemne, presidindo-a o coronel Francellino Cordeiro e servindo de secretario o tenente Mirandolino.

O coronel Francellino, usando da palavra, congratulou-se com os associados pela data que se commemorava, entregando depois, a palavra ao dr. Ulysses de Nonohay, orador official, que pronunciou o seguinte discurso:

“Exmas. sras, sr. presidente, meus senhores!

A Inconfidência Mineira, que hoje commemoramos, tem, antes de tudo, estia expressão histórica: ella era a primeira manifestação de força de uma Pátria que despertava para a Vida, ella era o primeiro agitar, soturno, oculto, de um vulcão que não tardaria a explodir para soterrar o domínio portuguez, sob as lavas candentes da Liberdade.

Na mallograda conspiração, nada faltava para identifical-a a um movimento nacional, antes que regional: fel-a o genio brazileiro, que se esboçava nas Iyricas estrophes d’aquelles poetas, fel-a a nossa bravura, tantas vezes affirmada nos campos de batalha, fel-a a nossa consciência de livres, na revolta contra a extorsão e contra o Crime, fel-a por fim o elemento nacional, que naquelles mamelucos, naquelles audazes desbravadores de sertões tinha o seu protoplasma e a sua geratriz.

Porém, acima de todos estes elementos conjugados e acima mesmo da propria Pátria, neste momento, pairava a figura serena, tão grande na sua humildade como no seu cacaracter, tão genial no seu sonho como bravo no seu martyrio, tão nobre na sua dedicação como admirável no seu civismo; o Tiradentes legendário!

E por isso mesmo, srs. a própria corda que lhe sulcara o pescoço, foi tambem a charrúa que lavrou esta Terra para a Independência e para a República!

O sangue, que jorrou em catadupas dos membros, barbaramente esquartejados, foi também o adubo a fecundar a Idéa Sublime!

O Sal, que devia esterilisar o solo pizado pelo Martyr, foi a sementeira bemdita que tinha de desabrochar neste pendão auri-verde, que crearia uma Patria livre…

E a própria infancia, senhores, foi também o Hynno admiravel, tão alto, tão límpido vibrando, que o parece cantar eternamente a Constellação nacional do Cruzeiro!

E Corda, Sangue, Sal e Infamia, tudo para que serviu?

Para castigo de um Homem?

Não! Para a glória de uma Pátria!

Pátria! Nome admirável, sublime, que parece ciciar aos ouvidos, como um appello materno!

Pátria, que lá no extremo Norte, no Amazonas prodigioso, tens a expressão mais nítida da sua grandeza, naquella Cornucópia immensa a dardejar eternamente ouro, nos raios fortes daquele Sol e na fecundidade imensa daquela Terra.

Pátria, que lá no Maranhão, outr’ora com meia dúzia de homens, expulsou a primeira nação do mundo.

Pátria, que, na insurreição pernambucana, escreveu uma das mais bellas e das mais heroicas epopeias!

Pátria, que na Bahia foste o Gênio, em São Paulo a Audácia, em Minas o Martyr e aqui no Rio Grande a bravura e a Liberdade.

Pátria, que cresceste para um continente e marcha para uma civilização, quem te creou; quem foi a sentinela avançada da tua Independência, quem arrostou a morte por ti, quem enfim foi o teu proprio coração a espadanar em sangue, de ti, mais invulnerável e imortal que Achilles: o Tiradentes!

O seculo 19 se aproxima e com elle a maioridade da Humanidade.

O povo começava pouco a pouco a ter comciencia da sua força e em breve devia se precipitar como

uma avalanche, derribando thronos, creando a Republica e conhecendo a Liberdade.

E este movimento que se iniciara dentro da velha civilisação europea, e que devia terminar naquella crise, que foi a revolução Franceza, não tardou, a passar á América.

Simples veio d’agua, até então, elle tinha, nas pobres colônias escravas, que se transformar em pouco, no rio caudaloso que arrastaria na sua corrente impetuosa para a vida e para Independência!

E uma das primeiras a estremecer em ancias de Liberdade, foi o Brazil sublimado, porém a idéa viera cedo demais e devia transformar-se de momento naquella tragédia de 21 de abril, preparada como a do Golgotha, pela turva figura de um judas!

Porém ella não morreu… O patíbulo mataria o Homem, mas a Idéa havia de crescer, subir, até que, numa explosão admirável de Força, impelliu um próprio Príncipe a soltar o brado memorável de “Independência ou morte” …

Veio a Independencia e, menos de um século apoz a Republica!

E, hoje, ao comemorarmos o martyrio de Tiradentes, nós o fazemos entre festas, porque a morte daquelle homem foi uma Ressurreição, pois que dentro do corpo do Heróe estava a alma da Pátria.

Disse !”

Uma salva de palmas cobriu as últimas palavras do orador.

O coronel Francellino Cordeiro propoz, então, que fosse acclamado sócio benemerito do Gremio Gaúcho o dr. Ulysses de Nonohay, á que foi feito.

Não havendo mais quem quizesse usar da palavra foi a sessão encerrada, depois de ter o presidente agradecido a presença das pessoas que ali se encontravam.

Durante o dia, no capão ao lado da séde social, houve animado baile.

– ∆ –

Outras notas

– Do dr. lldefonso Fontoura recebemos, hontem o, seguinte telegramma:

“Ao orgam republicano riograndense envio parabéns pelo anniversario do grande martyr precursor da Republica – lldefonso.”

– Estiveram, hontem, em nossa redacção e nos apresentaram cumprimentos o coronel Julio Vasques, Costa Gama e coronel Antenor Amorim.

– Diversas casas conservaram-se embandeiradas, durante o dia.

– Nos edifícios das corporações militares a bandeira foi içada e arreada com todas as formalidades do estylo.

– Nos quartéis, o rancho foi melhorado, sendo postas em liberdade as praças que cumpriam penas correccionaes.

– Os bancos não funccionaram e as repartições publicas não deram expediente.

– O commercio, á tarde, fechou suas portas.

– Á noite, os estabelecimentos illuminaram suas fachadas.

– Ás 18 horas, a bem organizada banda de música da escola municipal Hilário Ribeiro deu retreta na praça Senador Florencio, executando o excellente programma que hontem publicamos, o que foi muito apreciado pelos assistentes. Os alumnos trajavam roupa kaki o polainas brancas.

Fonte: A Federação, Anno XXXI, Edição 093, de 22/04/1914, quarta-feira, página 1. *Mantida a grafia da época

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