A Federação, no dia 20 de fevereiro de 1914, sexta-feira, noticiava:
BRIGADA MILITAR
Instrucções para o serviço de padioleiros – Parte III
Instrucções para o serviço de padioleiros, em manobras e em campanha, na Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, contendo breves noções sobre os primeiros soccorros, prestados a feridos e doentes.
Este trabalho foi elaborado pelo capitão medico da Brigada – dr. Armando Bello Barbedo – por determinação do sr. coronel dr. Cypriano da Costa Ferreira, commandante geral da Brigada Militar.
Meios improvisados de transporte de feridos ou doentes
Para o transporte de feridos e doentes nos combates ou manobras há, além dos meiois technicos adequados a esse serviço os meios improvisandos ou de occasião, que são de transporte a braço e em padiolas improvisadas, por meio de varas, cordas, saccos, peças de fardamento, equipamento, armamento, etc. Sabe-se que nem sempre a intensidade do fogo nos combates e a situação dos combatentes entre si permittem a retirada immediata dos feridos e doentes cujas vidas ficam assim em maior perigo; em outros casos, os accidentes do sólo concorrem para difficultar o transporte e ás vezes, a propria natureza do ferimento o impossível pelos meiois de occasião, não podendo assim esses infelizes feridos receber um primeiro soccorro indispensável. Entretanto um transporte improvisado com arte e um primeiro soccorro aplicado com habilidade, transforma ferimentos graves em leves accidentes, dando logar, ás vezes, a salvar muitos soldados da imminencia da morte.
Os accidentes do terreno, ou obstáculos por ventura ahi encontrados ou ainda a falta da padiola impõem, ás vezes, o transporte dos feridos a braço e em grandes distancias, o que o torna penoso.
Vê-se desde logo que o transporte a braço por um só padioleiro, aliás de uso frequente só pode ser feito por um homem vigoroso e tendo de percorrer pequenas distancias. Ha dous modos de conduzir assim um ferido, cujos processos se acham claramente descriptos na lnstrucção de Padioleiros, em manobras e em campanha, em vigor, actualmente no Exercito Nacional.
Estas instrucções a elles se reportando, adoptarão o methodo seguido na Escola de Enfermeiros e de Padioleiros Militares do Serviço de Saúde do Exercito Francez, considerado um bom manual technico desse ramo de serviço militar.
1º processo – transporte ás costas – O padioleiro põe o joelho em terra diante do ferido e de maneira a dar-lhe as costas.
O ferido passa-lhe os braços em torno do pescoço e o padioleiro, segurando-o pelas curvas das pernas, iça-o ás costas e levanta-se. Para facilitar o movimento de levantar poderá o padioleiro procurar um ponto de apoio na frente e ajudar-se com um bastão ou com o próprio fuzil.
2º processo – transporte a braço – O padioleiro, collocado junto do ferido põe o joelho em terra e passa lhe o braço sob os rins e as nadegasa; o ferido, por seu turno, passa os braços em redor do pescoço do padioleiro, se levanta, firmando-se na perna não flexionada.
Observação – O transporte ás costas é preferível ao transporte a braço, mas é preciso que o doente possa auxiliar o padioleiro e tenha forças pura bem firmar-se no pescoço do mesmo.
No transporte a braço por dous padioleiros, o ferido póde ser transportado em duas posições: sentado ou deitado.
1º methodo – sentado – Dois processos pódem ser empregados: a duas ou a quatro mãos,
1º processo – transporte a duas mãos – Os padioleiros põem o joelho em terra, ao lado do ferido, que é collocado de cócoras.
Unem primeiro as mãos que estiverem dirigidas para os pés do ferido e passam-nas por baixo das nadegas; em seguida cruzam as outras duas por sobre o dorso do mesmo, que passa os braços em torno do pescoço dos padioleiroa, se puder, e apenas um, quando for o ferimento situado num dos membros superiores.
Á voz – Sentido – Levantar – os padioleiros se levantam.
Á vóz – Em frente – Marche – o da direita rompe a marcha com o pé direito e o da esquerda com o esquerdo.
2º processo – transporte á quatro mãos – Si o ferido tiver forças para auxiliar-se e puder servir-se dos braços, farão os padioleiros uma cadeirinha com as mãos, o que permittirá um transporte mais commodo.
Os padioleiros, collocados ao lado do ferido, põem o joelho em terra, e cada um segura o seu punho esquerdo com a mão direita e depois, com a mão livre, segura o punho livre que o companheiro lhe apresenta.
Assim formada a cadeirinha, o ferido procura sentar-se pelo modo mais fácil, passando os braços em torno dos pescoços dos padioleiros ou por baixo dos braços.
Á vóz – sentido – Levantar – os padioleiros levantam-se.
Este modo de transporte é não somente mais commodo para o ferido do que o transporte a duas mãos, como também menos fatigante para os padioleiros, que poderão assim vencer maiores distancias com esforço menor.
Observação – Póde-se substituir as mãos por um anel de corda ou de palha trançada, ou ainda por um pedaço de panno rectangular, cujas extremidades são cosidas em redor cylindros de madeira.
Os padioleiros que com uma das mãos livres, della se servem para sustentar o dorso do ferido.
2º methodo – Posição deitada – Tres processos podem ser empregados:
1º processo – Os padioleiros são collocados um de cada lado do ferido.
2º processo – Os padioleiros são collocados ambos do mesmo lado do ferido .
3º processo – O ferido é mantido pelas extremidades.
Os padioleiros collocam-se da seguinte forma: o n.1 entre as pernas do ferido, o n. 2 por traz da cabeça. Tendo posto um joelho em terra, o n. 2 levanta a cabeça do ferido, que aplicca contra seu próprio peito, passa os braços de traz para deante por baixo dos braços do mesmo, cruzando as mãos por diante do peito.
O n. 1 pende o corpo para a frente, voltando as costas ao ferido e ao padioleiro n. 2 , que segura-lhe as pernas, passando as mãos de fora para dentro pelas curvas.
Á vóz – Sentido – Levantar – os dois padioleiros se levantam.
Á vóz – Em frente – Marche – rompe a marcha com o mesmo pé.
(Continua)
Fonte: Jornal A Federação, ano XXXI, edição 043, de 20/02/1914, página 6 – *mantida a grafia da época