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O DIA 18 DE FEVEREIRO DE 1914, NA HISTÓRIA DA BRIGADA MILITAR – Instruções Para O Serviço De Padioleiros – Parte II

A Federação, no dia 18 de fevereiro de 1914, quarta-feira, noticiava:

BRIGADA MILITAR

Instrucções para o serviço de padioleiros – Parte II

Instrucções para o serviço de padioleiros, em manobras e em campanha, na Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul, contendo breves noções sobre os primeiros soccorros, prestados a feridos e doentes.

Este trabalho foi elaborado pelo capitão medico da Brigada – dr. Armando Bello Barbedo – por determinação do sr. coronel dr. Cypriano da Costa Ferreira, commandante geral da Brigada Militar.

Preliminares

Durante a conducção dos soccorridos, qualquer que seja a topographia do terreno, deve-se dar á padiola, sempre que fôr possível, posição horizontal, aprendendo préviamente os padioleiros com o respectivo instructor as regras a observar na transposição de obstáculos, na uniformidade do passo, na passagem de um fosso, etc. (manobras muito bem ensinadas e postas em pratica por M. Cesary, um dos chefes da Escola de Applicação de Medicina Militar de Val-de-Grace).

Nas subidas e descidas muito ingremes, deve-se ter o cuidado de conservar sempre em posição mais alta a cabeceira, flexionando ou alongando para isso os braços e as pernas.

Quanto ao tempo necessario para transportar um ferido ou doente do campo de batalha ou de manobras ao Posto de Soccoros, conforme experiencias de Longmore a esse respeito, está calculado que são necessários, na média, numa distância de 1.200 a 1.800 metros, em terreno plano, 26 minutos; levando mais 18 para o regresso, o trajecto completo da padiola gastará, pois, 44 minutos. Accrescentando-ae a esse tempo mais 12 minutos, para dar ao ferido ou enfermo os soccorros imediatos e imprescindiveis, conclue-se que são precisos 60 minutos ou uma hora para vir uma padiola, transportando um ferido ou enfermo do campo ao Posto de Soccorro e voltar vasia ao ponto de onde partiu. Vê-se pelo exposto que, uma guarnição de quatro homens não poderá transportar, durante um dia, mais de doze a quinze feridos, dado que faz ver que é bastante insuficiente este modo de transporte, desde que haja numero considerável de feridos ou doentes; mas, deve-se ter em conta que muitos destes podem por si transportar-se, sem serem carregados por padioleiros; resulta, pois, o quanto é importante não perder tempo e andar nesse serviço com muita actividade, especialmente havendo affluencia de feridos.

Em regra geral, devem ser transportados em primeiro logar os feridos com hemorrhagias graves e os que forem atingidos por ferimentos da cabeça, pescoço, tronco ou membros inferiores.

Nas considerações acima não levamos em conta o tempo variável que pode ser gasto na exploração do campo de combate, feita pelos padioleiros na procura de feridos que podem se achar nos logares onde foram feridos ou em outros pontos, a que foram ter por instincto de conservação própria, procurando occultar-se em obstáculos naturaes, depressões do terreno, casa, material bellico, etc., conforme a situação dos combatentes. O tempo desse serviço ainda pode variar, uma vez que seja feito á noute, attentas ás dificuldades produzidas pela escuridão, apezar dos recursos da luz artificial, algumas vezes de uso difficil e inconveniente.

Na guerra russo-japonesa, refere Matignon, os japoneses supprimiram os meios de illuminação, por despertarem a attenção do inimigo.

Para auxiliar ou facilitar a procura dos feridos é habitual o uso de gritos repetidos, e com intervallos regulares para se fazerem entender e chamar os padioleiros; M. de Beaufort teve a idea de munir cada soldado de um apito, por meio do qual poderia pedir soccorro em caso de achar-se o ferido no campo, em estado de não poder andar, nem fallar. Matignon imaginou adaptar um apito na placa de identidade, usado em alguns exércitos.

Na busca de feridos ou doentes, podem ser empregados os cães sanitários, que bons serviços prestam.

O major médico dr. Bichelonne e o capitão Tollet citam preciosos serviços prestados pelo cão sanitario, em varias guerras, o qual tem sido introduzido em muitos exércitos, onde recebe a competente instrução e faz bellos exercicios.

A França, Belgica, Hollanda, Suecia, Italia, Allemanha, etc. possuem seus cães sanitários já experimentados com excellentes resultados nas guerras anglo-boer e russo-japoneza, segundo escreveu o dr. Berthier, em 1910. Vem a propósito lembrar que nas batalhas prolongadas ou em que o serviço de remoção de feridos e doentes seja interrompido por haver fogo muito intenso e continuado, será de vantagem que os padioleiros conduzam comsigo embornaes com um pequeno farnel (pão, biscoutos, bolachas, etc.) a fim de levantar as forças dos feridos que porventura não tenham se alimentado por muitas horas e se achem transidos de fome ou muito enfraquecidos.

Todo o material de serviço affecto ás secções de padioleiros terá pintado, emlogar conveniente, uma cruz vermelha, com dimensões proporcionaes. Cada carro ambulância terá, além disso preso em pequena haste, no flanco esquerdo da boleia, um galhardete de flanela branca contendo no centro o mesmo symbolo.

Como se vê pelo exposto, não possuindo a Brigada, de accôrdo com sua organização, um corpo especial de padioleiros, ficou o pessoal desse serviço constituído pelo das musicas. Dessa dependencia decorre que não pode haver apurado rigor na exigência dos predicados indispensáveis ao padioleiro. O pessoal desse serviço, vindo da musica para a qual entrou directamente, isto é, com deveres muito diversos, nem sempre poderá reunir em si as condições physicas, Moraes e intellectuaes que tanto exaltam o cargo do padioleiro, cujas funcções vae, cumulativamente, desempenhar.

Observação

O modo de remover os feridos ou enfermos do local onde foram encontrados para a padiola, cujo transporte deve ser executado, variando as manobras, conconforme forem empregados nesse serviço dous ou três ou quatro padioleiros; as manobras para apear os feridos de cavallaria ou para conduzil-os á Cavallo ao Posto de Socorro; o modo de installar os soccoridos na padiola e as precauções a tomar no seu transporte, etc., são assumptos que ficam reservados á instrucção dos padioleiros dadas nos corpos na qual o respectivo medico poderá dar-lhes maior desenvolvimento, habilitando o pessoal para a execução desse serviço.

As noções technicas ministrada na instrucção aos padioleiros são semelhantes em todos os exércitos e o respectivo programma é quase sempre modelado pelo da Prussia, que versa especialmente sobre os pontos seguintes:

Primeiro – Organisação e estructura geraes do corpo humano. Situação dos differentes órgãos. Trajecto das principais artérias.

Segundo – Principaes lesões traumáticas que se encontra no campo de batalha, accidentes mais frequentes e perigosos destas lesões e que exigem soccorros immediatos. Indicação dos signaes da morte apparente.

Terceiro – Meios fácceis de reconhecer as contusões, fracturas simples e complicadas, luxações e as diferentes especies de feridas nas diversas partes do corpo. Phenomenos que as acomapanham.

Quarto – Material para curativo. Indicações dos apparelhos que se deve empregar nos differentes casos, para os primeiros soccorros no campo de batalha.

Quinto – Os trabalhos praticos, mais importantes, cujos exercícios devem ser dados aos padioleiros, são:

B) Curativo simples das feridas nas diversas partes do corpo, meios de contenção das fracturas.
C) Retirada dos feridos do campo de batalha; precauções que se devo tomar nos ferimentos graves. Auxilio aos feridos que se podem transportar aos Postos de Soccorros. Os melhores meios de transporte dos feridos, a braço e em padiolas. Modo de accommodar os feridos para o seu transporte, nos casos de ferimentos da cabeça, tronco ou extremidades. Installação dos feridos nas padiolas de roda, cacolets, liteiras, etc. Cuidados a ter nestas circumstancias. Cuidados a tomar durante o transporte. Desembarque e transporte dos feridos a seus destinos. Formações militares etc.
Pacote de curativo individual – Consta geralmente de uma pelota de estopa, uma compressa de gaze, uma atadura de algodão, todas bichloruradas, um pedaço de tecido impermeável e dous alfinetes de segurança. É tal a sua importancia nos combates que, sua applicação bem feita, é a causa muitas vezes da salvação de um ferido.

O illustrado medico militar do nosso Exercito, general de brigada graduado dr. Affonso Faustino – na traducção de um artigo, publicado no Boletim Mensal do Estado Maior do Exercito Nacional, relativamente a serviço de saúde em campanha, faz resaltar a importância do pacote de curativo individual, cujos beneficios ficaram em destaque notável na recente guerra dos Balkans. E, diz elle – certamente é consolador saber que, graças a este pequeno pacote de curativo o ao methodo de abstenção adoptado pelos médicos militares francezes, o numero das complicações infecciosas graves e das consequencias más das feridas ficou reduzido além de toda a espectativa.

Diz mais – que o professor dr. Montprolit observou, pela acção do curativo individual com ou sem applicação iodada, a cura por primeira intenção das peiores feridas (feridas transversas dos membros, peito abdômen e do craneo).

Fonte: Jornal A Federação, ano XXXI, edição 041, de 18/02/1914, página 5 – *mantida a grafia da época

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