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O DIA 17 DE JANEIRO DE 1914, NA HISTÓRIA DA BRIGADA MILITAR – Manobras Da Brigada Militar, Em 1913 – Relatório Do Serviço De Saúde – Parte I

A Federação, no dia 17 de janeiro de 1914, sábado, noticiava:

MANOBRAS DA BRIGADA MILITAR

SERVIÇO DE SAÚDE – 1ª Parte

Do relatório apresentado ao coronel Cypriano da Costa Ferreira, commandante geral da Brigada Militar, pelo dr. Armando Barbedo, capitão-medico e que dirigiu o serviço de saúde nas ultimas manobras daquella milícia, nos campos do Gravatahy, extraímos as seguintes notas:

“Satisfazendo a nota contida na ordem de operações do estado-maior, n.5, de 7 de dezembro último, apresento-vos um relatório do serviço sanitario, correspondente ao período de manobras da Brigada Militar, que se realisaram no Cortume, campos de Gravatahy, sob vossa chefia, o que faço na qualidade de chefe do serviço sanitario, cargo que exerci durante aquellas manobras.

O pessoal sanitario desse serviço constou dos srs. capitães médicos drs. Cândido Ferreira dos Reis e Antenor Granja do Abreu, alferes dentista João Guilherme Ferreira, pharmaceutico adjunto Jonathas da Costa Ferreira, bem assim do enfermeiro-mor Thimotheo de Macedo Pires, cabos enfermeiros, padioleiros, conductores etc.

O material sanitario foi promptifiícado e enviado pelo Hospital do Crystal, constando de barracas, inclusive duas grandes barracas-hospitaes, modelo Tortoise, canastras ambulâncias inglezas, para medicina e cirurgia, caixas do socorros medicos-cirurgicos, modelo allemão, bolças dos padioleiros, cantis , supporta-padiolas, servindo de mesa de operações, em campanha, galhardetes com distinctivo do serviço sanitário da Brigada, filtros portáteis para água, padiolas modelo da Brigada Militar, mesas pequenas, leves e de fácil armação, material para expediente, camas, lanternas marítimas, cestas com roupas etc.

Este material foi conduzido, em carroças pequenas, de dous animaes e em cargueiros, a excepção da caixa de soccorros, que ia no carro ambulância conduzido pelo enfermeiro-mór.

Todo esse material chegou em bom estado ao acampamento, bem como as viaturas, o que demonstra ter havido ordem e cuidado durante o transporte.

Além das barracas do typo adoptado e usados pelas praças da Brigada Militar, foram armadas três outras de feitio especial: uma, destinada a isolar os doentes de molestias infecto-contagiosas, á frente da qual foi hasteada uma pequena, bandeira amarella, como distinctivo do isolamento e mais, duas outras barracas hospitaes.

Estas, eram grandes, de dupla abertura, modelo Tortoise, de construcção simples e sólida, de montagem e desmontagem rapida, muito leves, podendo accommodar trinta doentes, feitas de superior panno impermeável; nestas barracas póde-se andar sem curvar-se, por terem altura sufficiente ; existem em seus lados rectangulos, simullando janellas, cobertas de tecido transparente que deixa penetrar a luz indispensável durante o dia, quando fechadas as barracas; nos dias de muito calor pode-se arejal-as completamente ou em parte, sem ser preciso desarmal-as, levantando as suas faces lateraes, que são perpendiculares ao sólo.

Entre as vantagens destas barracas-hospitaes, destaca-sec a da dupla cobertura em cujo seio circula um coxim de ar, evitando o aquecimento do que se acha no recinto das mesmas; são de conducção fácil, por isso que póde cada uma ser transportada no dorso de um animal, facto este já previsto pelo seu constructor, que ensina a enrolal-a e dispôl-a para esse meio do transporte. As portas das barracas, quando abertas, ficam dispostas, de modo a formarem um toldo.

Em uma das barracas-hospitaes installamos a pharmacia e sala de operações. A outra barraca foi destinada á hospitalisação.

Em cada uma dellas foi hasteada uma pequena bandeira distinctiva do serviço sanitário da Brigada.

Estas barracas prestaram-se muito bem para a pharmacia e sala de operações, bem como por hospitalisação.

Barraca-hospital – 1913
Barraca-hospital – Modelo Tortoise – 1913

Foram experimentadas as padiolas, confeccionadas nas officinas da Brigada, que deram excellentes resultados, mostrando serem resistentes, commodas, leves de montagem e desmotagem facíllimas.

Como typo de padiola de campanha, parece preencher os fins a que se destina, pois é confeccionada de tal forma que, quando por accidente, se estragar qualquer das suas partes componentes, poderá ser facilmente substituída por material que se tem á mão em campanha.

As padiolas experimentadas, cuja nomenclatura penso organisar opportunamente, serviram também de leito para os doentes que estiveram hospitalizados a barraca-hospital e também no transporte de doentes e feridos simulados nos diversos exercícios de padioleiros que se realisaram.

Nas proximidades da ponte de pedra do Gravatahy, na occasião da chegada ao acampamento, o sr. capitão José Augusto Wellausen, do 1º Regimento de Cavallaria, que acompanhava a ponta da columna de manobra, tendo o cavallo em que montava rodado inesperadamente, saltou do animal com tanta felcidade que fracturou a perna direita. Foi elle promptamente soccorrido pelo sr. capitão dr. Antenor Granja de Abreu que, com solicitude e pericia attendeu-o convenientemente. Esse official foi removido para o hospital do Crystal e tendo sido acompanhado pelo enfermeiro-mór, o qual no dia seguinte regressou ao acampamento.

O sr. capitão Wellausen foi transportado em uma das padiolas supra-mencionadas, tendo se verificado que suas hastes devem ser feitas com madeira menos flexiveis do que a actual ; entretanto em um transporte longo como o que foi feito, a padiola mostrou ser bastante resistente, leve e commoda.

A Brigada Militar receberá por estes poucos dias uma encommenda feita para a França, de padiolas articuladas, padiolas Macquet e Franck e outros modelos, ficando assim com diversos typos de padiolas, em experiências, a fim de poder adoptar definitivamente um dos modelos estudados.

Como typo de padiola de guarnição, a Brigada possue a de modelo do sr. tenente-coronel Claudino Nunes Pereira, assistente do material que, além desta padiola de sua invenção, imaginou e fez uma barraca para official, alias elogiada por pessoas competentes.
O estado sanitario foi magnífico.

Nos primeiros dias de acampamento, era bem regular o numero de consultantes mas, na sua maioria, tratava-se de casos de nevralgias diversas e cólicas intestinaes, males communs e explicáveis nos primeiros dias de acampamento, como se tem verificado nas manobras em geral.

Foram transferidas algumas praças doentes, da barraca-hospital para o hospital do Crystal mas eram portadores de pequenas affecções levadas da guarnição, occultadas propositalmente pelas praças.

No dia seguinte ao da chegada ao acampamento, o musico Edmundo Gomes da Silva adoeceu gravemente e, quando o sr. capitão médico dr. Candido Ferreira dos Reis chegou á barraca da referida praça, nada mais pôde fazer, porque esta havia fallecido, tendo o mesmo medico syndicado do fato, dando como causa provável da morte uma congestão cerebral. O cadáver foi transportado para uma barraca-isolamento e no dia seguinte, appós as formalidades precisas, foi sepultado.

No dia 6, ás onze horas da noite, tendo enfermado o sr. major Gregório Portuguez, do 2º Batalhão de Infantaria, foi attendido, em sua barraca, por mim e pelo sr. capitão medico dr. Cândido dos Reis.

O sr. major Gregorio foi, no dia seguinte, devido ao seu estado de saúde, transportado para Porto Alegre em companhia do sr. capitão dr. Cândido Reis e cabo de saúde Felisberto Francisco.

Influiu naturalmente, no magnifico estado sanitário, o local do acampamento, que era excellente.

Cada corpo estava acampado junto a um bosque, em lugar alto e dispondo de abundante e boa água.

Durante os dias quentes, as praças, quando em descanço, deixavam as suas barracas e aproveitavam-se da sombra e frescura do matto.

A pharmacia dispunha de material proprio de uma pharmacia de campanha.

Nada faltou. A pharmacia sempre esteve sob a direcção technica do sr. pharmaceutico Jonathas da Costa Pereira, profissional competente e trabalhador, tendo dado uma disposição esthetica e pratica ao material que lhe pertencia, facilitando, desta sorte, o serviço a seu cargo.

Foram inspeccionados de saúde, na barraca-hospital, dous officiaes e diversas praças, os primeiros por conclusão de licença e os segundos para engajamento.

No dia 4, foi dado signal de alarme, ás 3 horas da madrugada e, com urgência, providenciei para que o pesoal e material do serviço sanitário ficassem de promptidão, o que effectivamente aconteceu.

Tendo o 1º regimento de cavallaria tido ordem para deixar o acampamento, em objecto de serviço, escalei para acompanhal-o o sr. capitão médico dr. Cândido dos Reis e o cabo de saúde Fellisberto Francisco, que levou comsigo as bolsas sanitarias e a mochila ambulancia. O 1º regimento partiu pela manhã, regressando á tarde. Informou-mo o sr. capitão dr. Reis não ter havido alteração durante esse serviço.

Conforme ordem superior realizou-se por ocasião do tiroteio em defesa ao ataque á guarda da frente do acampamento, um exercício de padioleiros, com o pessoal das bandas musicaes dos 1º, 2º e 3º Batalhões e da Grande Banda da Brigada, prestando-se os primeiros soccorros medico-cirurgicos aos feridos e doentes simulados.

Estes exercícios foram realisados de accordo com o regulamento em vigor, na Brigada Militar.

(Continua)

Fonte: Jornal A Federação, ano XXXI, edição 014, de 17/01/1914, página 4 – *mantida a grafia da época

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