A Federação, no dia 15 de outubro de 1917, segunda-feira, noticiava:
Esboço Histórico da Brigada Militar
“Em meados de fevereiro deste anno, o meu prezado e illustre amigo, Coronel Affonso Emílio Massot, que repetidas vezes – mormente nas estações difíceis de minha vida, tanto me tem confortado e distinguido, perguntou-me, quando palestrávamos intimamente no seu gabinete de trabalho, se eu me encarregaria de organizar a história da Brigada Militar, e se me compromettia a dar prompto o 1º volume – comprehendida a revolução – 15 de outubro, 25º anniversário da creação da milícia riograndense.
Sou, no seu impecável commando, para os effeitos da obediência e do cumprimento de ordens, o mesmo official effectivo de outros tempos, quando me seduziam nobres aspirações, e me sorria, quase certo, futuro menos apagado.
Acceitei, é obvio, sem objecção, á pesada incumbência, sem atender sacrifícios de saúde e excesso de trabalho.
Era preciso o labor de dias inteiros e de parte da noute, na pesquisa attenta, demorada leitura e classificação dos documentos, para que eu pudesse cumprir integralmente a minha promessa.
No fim de quatro meses estavam terminados os manuscriptos, e assim divididos: Anteloquio, Introduccão, o oito Capitulos que formam em typo dez, formato grande, um volume de mais de 600 paginas.
O titulo “Esboço Historico da Brigada Militar” não é phrase metaphorica que exprima modéstia do autor. Diz com absoluta propriedade aquillo que está feito: isto é, uma collectanea de documentos que sirvam de guia e elemento ao historiador definitivo.
A algumas passagens importantes, é certo, ajuntei rápida, mas conscienciosas apreciações, segundo o meu critério e orientação no encarar os factos.
Como o leitor verá, caso leia com interesso o que encerra o livro, há, por vezes, contradições sobre determinados pontos, ou tal e qual obscuridade. Deixei-os assim propositalmente, para que, testemunhas presenciaes dos acontecimentos referidos, venham esclarecel-os e rectifical-os.
É isto que, sinceramente desejo: a collaboração de todos para corrigir os defeitos quo a obra por força há de ter.
Seria muita velleidade suppol-a perfeita. E entre os meus defeitos não se encontra a vaidade nem a presunção.
Por isso invoco o auxílio de todas as pessoas entendidas, desejo crítica severa e respeitosa dos meus patrícios, rogando-lhes empenhadamente que venham elucidar o que acharem nebuloso e ensinar-me com franqueza e sem maldade a reparar os erros cometidos.
Não sou publicista, apenas o estudioso pertinaz que se congregou voluntariamente de todos os gozos e representações mundanas, para viver humilde e ignorado entre os seus livros, por nada saber e muito ansiar em diminuir sua ignorância.
O meu plano primitivo, abandonado e esquecido desde a minha reforma, e esplanado largamente perante o commandante Cypriano Ferreira, a quem servia de secretário, era o seguinte: colher e catalogar methodica e chronologicamente todos os papéis e depoimentos úteis, deles extrahir bem cuidado resumo, redigir e comentar desenvolvidamente todos os sucessos[1], estudando-lhes as causas, concomitâncias e as consequências.
Parece que foi este o caminho seguido por Mignet[2], na história da Revolução Francesa.
A fim de lograr tal objectivo, eu precisaria de alguns anos, o primeiro dos quaes consagrado inteiramente ao estudo dos melhores autores que me pudessem ministrar os ensinamentos indispensáveis e a consulta dos homens letrados de minha terra, mestres nesses assumptos.
Nada foi possível fazer submetido a esse plano, sob o qual, só mui raramente appareceria, para reforçar a verdade, um ou outro documento. .
De modo que o trabalho preparatório, naturalmente mais desenvolvido e completo, seria, o que agora se publica e cujo prosseguimento, no volume ou volumes seguintes, obedecerá ás mesmas regras, para não alterar a uniformidade da obra.
Deixo aqui averbadas estas, explicações, não com o intuito de me forrar ás censuras, de que ninguém se escapa, mas como aviso sincero aos meus patrícios, que assim poderão trazer o concurso efficaz de suas Iuzes a quem se confessa, sem falsa modéstia, calouro nas letras e ainda incapaz de ser historiador.”
Miguel Pereira
Fonte: Jornal A Federação, Ano XXXIV, edição 238, de 15/10/1917, segunda-feira, página 5 – *Mantida a grafia da época.
[1] su·ces·so |é|
(latim successus, -us, entrada)
substantivo masculino
Aquilo que sucede. = ACIDENTE, ACONTECIMENTO, FATO, CASO
Resultado de ação ou empreendimento.
O que tem bom resultado, boas vendas ou muita popularidade (ex.: este é o último sucesso do escritor). = ÊXITO ≠ FIASCO, FRACASSO, INSUCESSO
[Informal] Parto (ex.: tenha bom sucesso).
“sucesso”, in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013,
www.priberam.pt/dlpo/sucesso [consultado em 15-10-2017].
[2] François Auguste Marie Mignet – (1779 – 1884) – Jornalista e Historiador francês de orientação liberal, foi um dos primeiros a prestar atenção ao papel da luta de classes na história, mas reduziu-a somente à luta entre a aristocracia agrária e a burguesia. (Wikipédia)