Correio do Povo, no dia 12 de setembro de 1911, terça-feira, noticiava:
Uma fita – Os irmãos Petrelli, proprietarios do Coliseu, em vista da sensação que produziu, em todo o Estado, o crime da rua dos Andradas, resolveram reconstituir a tragedia, para apanhar uma fita cinematographica. Para isso, contrataram elles o sr. Guido Panella, operador cinematographico do Ministerio da Agricultura. Foram tambem contratadas diversas pessoas, para fazerem os papeis dos criminosos, bem como do cocheiro do carro de praça e do leiteiro cujos vehiculos serviram para a fuga daquelles. Ante-hontem, á tarde, o sr. Panella apanhou vistas de um supposto assalto a um bonde electrico e da scena do assalto á carroça do sr. Bottaro. Hontem, os irmãos Petrelli conseguiram, do cel. Cypriano Ferreira, cmte geral da Brigada Militar, que 40 praças do 1º regimento de cavallaria dessa milicia fossem para a varzea de Gravatahy, afim de ser reproduzida a scena do cêrco a um capão ali existente – onde foram mortos os criminosos. Ás 3 horas da tarde, um carro dirigiu-se para o Gravatahy, conduzindo quatro cidadãos, encarregados de representar os quatro criminosos. Aquelles cidadãos iam caracterisados e carregavam carabinas e outras armas. Moradores da rua Benjamin Constant, vendo um carro, em disparada, com quatro bandidos, deram logo alarme, communicando o facto ao 3º posto. O inspector municipal Justino Pires, de dia áquelle posto, tomou logo providencias, fazendo seguir patrulhas a cavallo para diversos pontos, afim de dar caça aos bandidos. Até o pessoal do posto foi ajudar a acção dos seus collegas de serviço. Depois de muitas correrias, as patrulhas encontraram o carro, com os bandidos, nas proximidades da chacara do tenente-coronel Adolpho Silva, no Passo d’Areia, onde existe uma grande figueira. Nessa arvore, preparavam-se todos para representar a scena do encontro das forças com os criminosos. As patrulhas, porém, não estiveram de accôrdo com a reconstrucção do drama e convidaram todos, especialmente os bandidos, a ir ao 3º posto. Ali, compareceram elles e mais os irmãos Petrelli, que explicaram a historia da fita. E assim, terminou a imprevista fita.
*Mantida a grafia da época.
Fonte: Jornal Correio do Povo – Coluna “Há um século no Correio do Povo”.