A Federação, no dia 11 de novembro de 1913, terça-feira, noticiava:
BRIGADA MILITAR – ENTREGA DO ESTANDARTE DO 1º REGIMENTO
Conforme noticiamos realizou-se, hontem, ás 10 horas da manhã, no quartel, do Chrystal, a entrega do novo estandarte ao 1º regimento de cavallaria da Brigada Militar.
O dia escolhido para a solemnidade coincidiu com o do 21º anniversario da creação do citado regimento.
Do programma da festa só foi realizada a parte official, constante da entrega do estandarte e da revista de instrucções que ha tempos publicamos.
Ás 9 horas da manhã formou o regimento para a revista de inspecção, que foi passada pelo coronel dr. Cypriano da Costa Ferreira, commandante geral.
Este chegou ás 9 1/2, sendo recebido com as formalidades do estylo.
Pouco depois o secretario do commando geral, capitão Cândido Barcellos, fez a leitura da seguinte ordem do dia:
“Quartel do Commando Geral da Brigada Militar, em Porto Alegre, 10 de novembro de 1913.
ORDEM DO DIA Nº 431
Para conhecimento o devida execução publico o seguinte:
Entrega de Bandeira – Venho entregar ao 1º regimento de cavallaria uma bandeira nova, em substituição á que possuia e que deve ser recolhida e guardada carinhosamente em sua secretaria.
Coincidindo esta solemnidade com o 21º anniversario da organização desse valoroso corpo da Brigada Militar e contemporâneo do seu glorioso passado, acodem á minha reminicencia, neste momento, o brilhante acervo de serviços por elle prestados e os feitos notáveis que o distinguiram na guerra.
Congratulando-me, pois, com a força de meu commando, especialmente com o commandante e officiaes do brioso 1º regimento, por essa memorável data deixo aqui expressa a minha inabalável convicção de que o symbolo da nossa nacionalidade será conservado com toda veneração e pundonor por officiaes e praças, sem esquecerem que ela representa a imagem da querida Patria. Cypnano da Costa Ferreira, coronel”.
Terminada a leitura o coronel Cypriano que por essa occasião empunhava o estandarte, o entregou ao commandante do regimento.
Este, pediu permissão ao commandante da Brigada Militar, determinou que o antigo estandarte fosse substituído pelo novo.
Então o alferes secretario do regimento leu a seguinte ordem do dia:
Quartel do 1º Regimento de Cavallaria da Brigada Militar, no Crystal, 10 de novembro de 1913.
ORDEM DO DIA Nº 233
Camaradas! Passa-se hoje o 21º anniversario da creação deste regimento.
Foi por decreto 382 de 10 de novembro de 1892, que o tino previdente do extincto dr. Júlio Prates de Castilhos, entendeu creal-o para auxiliar a manutenção da ordem, alterada com as correrias produzidas pelos caudilhos que enfestavam o nosso glorioso Estado, tentando, por interesses puramente particulares derrubar o governo legalmente constituido.
Mais accentuou ainda o tino esclarecido do dr. Castilhos, quando nomeou para exercer o lugar de commandante, o distincto capitão ajudante do 11º Regimento de Cavallaria do Exército, Fabricio Baptista de Oliveira Pillar.
Camaradas! Este Regimento desde a sua creação vem prestando relevantes serviços tanto na paz como no período agudo da guerra!
Elle trouxe dessa campanha encarniçada muitos louros conquistados pelos bravos que o compunham.
Lembrae-vos que este Regimento seguindo para o campo da lucta, guiado pelo seu hábil e valoroso commandante, teve occasião de se empenhar em muitos combates onde sempre se accentuava a bravura e civismo. Foi em 10 de setembro de 1894, que este Regimento, cheio de tristeza e profunda dor, viu cahir morto pelas balas inimigas o sou intrépido commandante, o bravo tenente-coronel Pillar, que dirigia pessoalmente a acção. Embora acabrunhado com a perda irreparavel do valente e brioso commandante Pillar, os seus commandados não esmoreceram, continuando na lucta em defesa da ordem. Camaradas! Homens do valor e civismo do commandante Pillar, são dignos dessa grande Pátria e servem de estimulante exemplo para nós!
Um outro facto que é motivo de regosijo para o nosso Regimento e que coincide com o seu anniversario é a entrega do novo estandarte, quo nos faz o exmo. sr. coronel dr. Cypriano da Costa Ferreira, distincto commandante geral daBrigada.
Camaradas, lembrae-vos, sempre, que esse estandarte symbollisa a Pátria!
Lombrae-vos tambem que a Patria nos impõe o glorioso dever de defendel-a com o sacrifício da própria vida, não deixando que para nossa humilhação venham tomal-o de assalto os nossos inimigos de amanha! Como exemplo edificante do que seja o amor Pátrio representado no Pavilhão auriverde cito um extraordinario facto passado na guerra do Paraguay: Por occasião do combate de Tuhy, em outubro do 1867, o alferes Passos que então conduzia o estandarte, atira-se a um fosso para escalar a trincheira inimiga e aviva o patriotismo dos seus camaradas, erguendo o Pavilhão da Patria. Nessa occasião esse offícial é morto pelo inimigo o cahe pelo talude. Rápido um paraguayo apodera-se do estandarte, mas, não consegue leval-o para o arraial inimigo, porque com elle trava lucta, matando-o o alferes Feitosa, official brazileiro, que havia tambem escalado a trincheira. Infelizmente não coube ainda a esse bravo official, a gloria de trazer para o nosso acampamento o emblema sagrado da Patria, por ter como o seu desventurado companheiro tombado victima dos paraguayos.
Essas duas victimas de abnegação e patriotismo não fizeram ainda esmorecer os sentimentos pátrios, porque estes não tem limites, tanto assim, que o alferes Costa e Souza, que se achava também com aquelles bravos officiaes, levanta o estandarte o penetra, com um reduzido numero de praças, no recintho da posição inimiga onde o atacam inúmeros paraguayos.
Nesse ataque cahe finalmente morto, o alferes Costa e Souza, que como os seus dois destemidos companheiros, tomba também atravessado pelas bailas paraguayas. O feroz inimigo vendo cahir sem vida a sua 3ª victima lança-se pressuroso sobre o Pavilhão da Patria, convicto de leval-o para o seu acampamento, mas oppoz-se a isso a bravura indomita, e o sentimento de extraordinário patriotismo de um cabo e um soldado que a golpes de baionetas conseguem rechassar os paraguayos, trazendo para as nossas fileiras o emblema da Patria!
Sirvam de licção para nos, exemplos do civismo como esse!
Si na guerra o estandarte nos estimula o defendermos a Patria com ardor intensissimo, na paz elle serve para, prestarmos o compromisso de bem deffendel-o com lealdade!
Camaradas!
Rendamos, pois, sempre e sempre, o nosso preito de homenagem, aquelles que tombaram na lucta em cumprimento do dever! Aquelles que souberam morrer pela Patria!
(Assignado) Francisco Rath, major, commandante interino.
Finda esta ceremonia teve lugar a revista de inspecção, que foi passada pelo coronel commandante geral, seguindo-se varias evoluções, que foram commandadas pelo capitão fiscal Alfredo Weber e pelo major commandante Rath.
As evoluções foram feitas com a maxima precisão.
A tropa formou depois em quadrado no recinto do quartel, sendo entoado o hymno á bandeira, pelos officiaes inferiores.
Em seguida houve um “lunch” offerecido pelos officiaes do regimento ao commandante geral da Brigada, coronel dr. Cypriano da Costa Ferreira, seu estado-maior, aos commandantes de corpos e respectivos officiaes.
A outra parte do programma, constante de variadas diversões militares e exhibição cinematographica, foi adiada para dia não designado, em virtude do luto de s. exa. o dr. presidente do Estado.
Por occasião do “lunch” foram feitos vários brindes, sendo o de honra levantado pelo coronel Cypriano, que após varias considerações sobre as tradições da Brigada Militar, quer na paz, quer na guerra; sobre o trabalho incessante para o seu aperfeiçoamento, dentro do respeito ás leis e ás auctoridades hierarchicas e civis, levantou sua taça em homenagem ao illustre estadista, dr. Borges de Medeiros.
Fonte: Jornal A Federação, edição 262, de 11/11/1913, página 7. – *mantida a grafia da época