A Federação, no dia 01 de janeiro de 1917, segunda-feira, noticiava:
Brigada Militar – Tiro e revistas
Em meiados de 1912, já após algumas transformações conducentes á modernisação da materia e dos processos de ensino contidos nos regulamentos de instrucção adoptados na Brigada Militar do Estado, a título de experiencia foi esta com todas as suas unidades submetida a um programma systematico e único, abrangendo todos os ramos dos trabalhos militares da tropa, distribuídos methodicamente por quatro períodos, de modo a que os exercícios ou aprendizagem destes se tornassem completos, resultando uns dos outros, até encerramento do semestre de instrucção.
Constatada ficou a exiguidade do tempo para tarefa tão ampla, dadas as circumstancias das exigências funccionaes da força, e o programma experimentado, depois de ampliado, corrigido e remodelado, instituiu para o anno seguinte, cinco periodos de aprendizagem e trabalhos, e d’ahi para cá, dentro d’elle, salvo correcções interpretativas, tem-se produzido este movimento continuo de progresso na acquisição dos conhecimentos militares, não só práticos como theoricos, tanto por parte do pessoal dos quadros como do que nelles se acham enquadrados, podendo-se afirmar com um grande consolo patriotico que a Brigada Militar do Rio Grande do Sul, em conjuncto, não desmerecerá, emparelhando com as unidades do nosso glorioso Exercito Nacional.
Deixando do lado outras considerações, no caso cabíveis, um dos ramos da instrucção que para logo determinou a ampliação do tempo desta, foi o tiro preocupação capital no preparo geral da tropa.
E de tal modo foi atacada esta parte do ensino, e com tanto cuidado e carinho, que, sem medo de errar, pode-se dizer que não existe na milicia rio-grandense um único soldado que não seja atirador prompto para campanha.
É dos melhores reservistas do Brazil, estando, entretanto, sujeito ao sorteio militar, indo preencher no Exército, durante a paz, claros que deveriam, pelo espirito da lei caber aos cidadãos sem o preparo necessário, tratando-se como se trata, de constituir reservas instruídas.
O preparo do atirador, na Brigada do Rio Grande começa sendo feito na machina subtarget, passando-se após ao tiro real individual a diversas distancias, culminando no tiro collectivo por fracções constituídas, como seja o pelotão.
Para o profissional que conhece as difficuldades que se oppõem á obtenção de altas porcentagens no tiro collectivo, principalmente a distancias como de 500 metros, em circunstancias atmosphericas variáveis, sobro alvos-silhuetas, debaixo das condições de determinado tempo ou de vozes regulamentares, e ainda sem a faculdade de escolha de dados atiradores para todas unidades, os resultados comparativos dos annos de 1913 a 1916 não podem deixar de calar fundo como impressão de intenso preparo technico do pessoal, mormente sabendo-se que provas semelhantes na Allemanha, por atiradores escolhidos, não foram muito além dos resultados que vamos mostrar.
No anno de 1913, no tiro collectivo nas ordens unida e dispersa, o 1º regimento de cavallaria obteve de impactos, em média, 4,76 por cento, o 1º batalhão de infantaria 15,34, o 2º batalhão 11,60 e o 3º batalhão 12,48.
No anno que vem de findar, os mesmos corpos obtiveram respectivamente 23,22 – 21,03 – 20,04 e 18,79.
Como se vê, resultados esplendidos, si bem que para isso, como parece, tivesse concorrido a distribuição de armamento novo, o que pouco influiria em mãos inhabeis.
A funcção do soldado em campanha é simples; consiste em saber marchar e servir-se de sua arma.
Mas saber marchar e servir-se da arma implica um sem número de cuidados e detalhes no preparo do soldado, no ponto de vista moral, intelectual e prático, e o ensino único do tiro não faz, portanto, um combatente na extensão lata do termo.
As revistas de instrucção de fim de anno vêm mostrar, a modo de estatísticas balanceando o conjuncto de todos os trabalhos, o esforço despendido na caserna por officiaes e praças, em bem da efficacia do ensino geral.
Um vasto programma de exame, abrangendo todas as partes do ensino pratico, theorico-prático e moral, põe em prova, no fim do anno, durante uma série de dias, commumente uma semana, as unidades dos corpos de toda a força estadual, sendo, após, classificadas, num resultado geral, mediante número de pontos obtidos por um processo previamente estabelecido.
Dentro de cada unidade ainda se dão as classificações dos diversos trabalhos individuaes ou collectivos.
No anno que findou, por exemplo, assim se collocaram as companhias de infantaria, as secções de metralhadoras dos corpos e do grupo respectivo, e os esquadrões de cavallaria, inclusivo a escolta presidencial:
1º Batalhão – 1ª companhia, 1.978; 2ª companhia – 1.784; 3ª companhia – 1.682; 4ª companhia – 1.817. Secção de Metralhadoras – 3.860; Banda de musica – 127; Banda de clarins – 373.
2º Batalhão – 1ª companhia – 1.337; 2ª companhia – 1.900; 3a companhia – 1.718; 4ª companhia – 1.736; Secção de metralhadoras – 3.984; Banda de musica – 225; Banda de corneteiros – 783.
3º Batalhão – 1ª companhia – 2.432; 2ª companhia – 2.146; 3ª companhia – 2.272; 4ª companhia – 2.227; Secção de metralhadoras – 3.540; Banda de musica – 445; Banda de corneteiros – 1.201.
1º Regimento – 1º esquadrão – 2.522; 3º esquadrão – 2.500; 4º esquadrão – 2.809; Secção de metralhadoras – 2.944; Banda de clarins – 1.116.
Grupo do Metralhadoras – 1ª secção – 2.519; 2ª secção – 2.851; 3a secção – 2.429; 4ª seccão – 2.361; 5ª secção – 3.003; Banda de clarins – 302.
Escolta Presidencial – 2.515 pontos.
Para fechar esta notícia de alguns aspectos da instrucção militar na Brigada do Estado, damos abaixo o resultado do tiro collectivo, na revista de instrucção do anno findo, o que implica a verificação dos conquistadores dos grandes prêmios – Estatueta da Victoria e Busto de Bento Gonçalves.
“A Victoria”, pela terceira vez, sem interrupção, coube ao 1º Regimento de Cavallaria, actualmente em Santa Maria, sendo esta a conquista definitiva, passando o corpo assim victorioso, d’aqui por diante, a disputar a posse do bronze “A Fama”.
O busto do Bento Gonçalves, que já esteve no 3º Batalhão, no 1º Regimento e no 1º Batalhão, voltou novamente para a 3ª companhia deste corpo.
Resultado do Tiro Collectivo durante a Revista de Instrucção em dezembro de 1916
Tiros dados | Tiros acertados | Porcentagem | Porcentagem Geral | ||
1º Regimento de Cavallaria | 1º Esquadrão | 320 | 69 | 21,56 | 23,22 |
2º Esquadrão | 336 | 74 | 22,05 | ||
3º Esquadrão | 304 | 71 | 23,35 | ||
4º Esquadrão | 280 | 74 | 26,42 | ||
Total | 1.240 | 288 | |||
2º Regimento de Cavallaria | 1º Esquadrão | 14,24 | 5,425 | ||
2º Esquadrão | 10,35 | ||||
3º Esquadrão | 7,285 | ||||
4º Esquadrão | 5,825 | ||||
Total | |||||
1º Batalhão de Infantaria | 1ª Companhia | 368 | 70 | 12,02 | 21,03 |
2ª Companhia | 350 | 54 | 15,42 | ||
3ª Companhia | 320 | 93 | 29,06 | ||
4ª Companhia | 331 | 72 | 21,75 | ||
Total | 1.369 | 289 | |||
2º Batalhão de Infantaria | 1ª Companhia | 216 | 39 | 18,05 | 20,04 |
2ª Companhia | 224 | 54 | 24,10 | ||
3ª Companhia | 296 | 58 | 19,59 | ||
4ª Companhia | 232 | 43 | 18,53 | ||
Total | 968 | 194 | |||
3º Batalhão de Infantaria | 1ª Companhia | 400 | 75 | 18,75 | 18,79 |
2ª Companhia | 306 | 51 | 16,66 | ||
3ª Companhia | 360 | 57 | 15,81 | ||
4ª Companhia | 360 | 85 | 23,61 | ||
Total | 1.426 | 268 | |||
Grupo de Metralhadoras | 722 | 104 | 14,40 | ||
Escolta Presidencial | 496 | 72 | 14,51 |
*Mantida a grafia da época.
Fonte: Jornal A Federação, Ano XXXIV, edição 001, de 01/01/1917, segunda-feira, página 20